É preciso abandonar a terra sáfara dos equívocos e do egoísmo
"Eu Sou o Caminho..."- Jesus. (Jo., 14:6)
Até agora ainda não logramos nossa definitiva alforria espiritual porque temos viajado
pelos oceanos das reencarnações sem um mapa norteador que orientasse nosso périplo
evolutivo através dos milênios, esquecendo-nos que Jesus, nosso "Modelo e Guia", é o
Caminho... Ora, jamais poderemos empreender uma viagem sem primeiro atinar com a
direção e adequar a bagagem indispensável à caminhada. Sendo Jesus o Caminho, a meta
é: o Reino de Deus.
"O Reino de Deus está no meio de vós." - Jesus (Lc., 17:21)
Faz-se necessário um mapa: visualizemos, pois, o mapa da Palestina e teremos ao
Norte: Damasco; ao Sul: Jerusalém; a Leste: Jericó; a Oeste: Emaús. Essas cidades,
ligadas entre si por duas linhas perpendiculares, tomam o formato de uma cruz, símbolo
daquela que devemos tomar em regime de despojamento do "eu propínquo", para, a partir
de então, seguir a Jesus em direção ao Reino dos Céus.
"Em verdade vos digo que, se não converterdes e não vos fizerdes como meninos,
de modo algum entrareis no Reino dos Céus." - Jesus. (Mt., 18:3)
Nossa viagem começa no rumo norte, em direção à cidade de Damasco. Mas, o que
significa Damasco?!
Sob o Sol inclemente do meio-dia, Saulo, caindo do cavalo, ajoelha-se nas areias
escaldantes do deserto sírio, nas proximidades de Damasco, e, ante a mirífica e luminosa
presença de Jesus, converte-se em Paulo, de perseguidor a seguidor, e, rendido em total
submissão ao Mestre, indaga:
─ "Senhor! Que queres que eu faça?"
"A lama abrasada pelo calor do Divino Oleiro, se converte em vaso precioso. O lodo
pestilento devidamente atendido converte-se em delicado perfume na intimidade da flor".
(Joanna de Ângelis).
Faz-se, portanto, necessário que o "homem velho" atravesse o árido deserto da própria
inutilidade, abandone a terra sáfara dos equívocos e egoísmo, convertendo-se no "homem
novo" e disponha-se à mesma indagação:
─ "Senhor!... Que queres que eu faça?
"Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e
siga-me." - Jesus. (Mt., 16:24)
Nossa direção agora é o Sul: Jerusalém! O que significa Jerusalém?
Era em Jerusalém que se encontrava o Templo de Salomão, onde os judeus se
reuniam nas demonstrações de espiritualidade.
Logo, tem isso o sentido de renúncia às coisas da horizontalidade, isto é, aos
tesouros terrestres que estamos sempre a amealhar em detrimento dos tesouros dos Céus,
prendendo-nos aos cipoais terrestres.
Foi em Jerusalém que o Mestre - em transportes de renúncia - doou Sua vida em
holocausto!
"Somente com a renúncia sincera poderemos alcançar o Reino da Luz, prometido
pelo Salvador." (Neio Lúcio)
"Meu Pai trabalha até hoje, e eu também." - Jesus (Jo., 5:17)
Seguimos agora para o Leste em direção a Jericó. O que significa Jericó?
Jericó era a cidade onde morava Zaqueu. Lá as pessoas dedicavam-se ativamente
ao comércio. Várias rotas comerciais se entrecruzavam ali. Logo, temos aí o símbolo do
trabalho.
"Para que o homem se integre na recepção da herança divina, não pode dispensar
as certidões de trabalho próprio." (Emmanuel).
Há muito trabalho a realizar tanto na esfera do próprio "eu" quanto na dedicação aos
que nos rodeiam.
Lembremo-nos de que o próprio Mestre nos conclamou a esse posicionamento
dinâmico em favor dos filhos do Calvário: "(…) curai os enfermos, limpai os leprosos,
ressuscitai os mortos, expulsai os demônios" (Mt., 10:8).
"O trabalho no bem é salvadora diretriz. Importa trabalhar sem esmorecimento,
recordando que, de há muito o Senhor nos aguarda, precedendo-nos os impulsos de
renovação com o próprio sacrifício." (Joanna de Ângelis)
Finalmente chegamos à última etapa, onde, completado o grande périplo, lograremos
atingir as condições básicas para a definitiva alforria espiritual e, eis que surge à nossa
frente a cidade de Emaús, na direção Oeste. Que significa Emaús?
"E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe:
cuida dele e tudo o que mais gastares eu te pagarei quando voltar." -
(Lc., 10:35)
Iam dois discípulos pelo caminho de Emaús, falando entre si de tudo que havia
sucedido. E aconteceu que Jesus se aproximou, e ia com eles. Cleófas admira-se, porque o
"Desconhecido" parecia ignorar os acontecimentos recentes de Jerusalém. A seguir, porém,
maravilham-se ambos com a sabedoria d`Aquele que os acompanhava ao ouvirem as
narrativas que começavam por Moisés e por todos os profetas e lhes explicava o que se
achava nas Escrituras.
Emaús, portanto, simboliza o acompanhamento, a volta, o retorno ao proscênio da
Caridade para a complementação da obra. Nas leiras de trabalho no bem com Jesus, além das condições de conversão, renúncia e trabalho, faz-se necessário o acompanhamento,
para revisão, para verificação do real aproveitamento e, principalmente, promoção e
crescimento dos tutelados, evitando malversação de recursos na prática da beneficência...
Assim, estaremos - por certo - acompanhando o Mestre dos mestres, seguindo-O no rumo
da Eterna Luz.
Podemos, então, resumir o mapa de nossa viagem ao País de nossa Alma do
seguinte modo: Norte - Damasco - conversão; Sul - Jerusalém - Renúncia; Leste - Jericó -
Trabalho; Oeste - Emaús – Acompanhamento.
Com tais diretrizes, naturalmente lograremos o êxito na grande e necessária viagem ao
interior da própria alma, realizando as condições básicas para o definitivo ingresso no Reino
Maior, alforriando-nos em definitivo da planície dos equívocos e alcandorando-nos aos
Cimos Gloriosos da Espiritualidade Superior, reino da paz imarcescível e da felicidade sem
mescla. (1)
(1) Este artigo foi inspirado em uma palestra de Divaldo Pereira Franco.
Rogério Coelho – A necessária viagem ao próprio interior
- Consolador – Nº 735 – 22/08/2021
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